24.1.16

Museus: Emoção e Aprendizagem



(...) Alguns valores essenciais que dizem respeito aos museus estão na base do ensinamento freiriano A idéia de “museu-fórum”, local aberto, livre de discriminações, atento às necessidades do seu público usuário, está em consonância com o pensamento do educador sobre a importância do diálogo e do respeito no processo educativo.

Estes preceitos pretendem transformar educadores e educandos, garantindo-lhes o direito à autonomia pessoal na construção de uma sociedade democrática, que a todos respeita e dignifica. Entre os princípios básicos apregoados por Freire estão a ética, o respeito pelos saberes do educando e o reconhecimento de sua identidade cultural, a rejeição a toda e qualquer forma de discriminação, a reflexão crítica da prática pedagógica, o saber dialogar e escutar; o ser curioso e alegre no ato de educar.


Freire se reporta constantemente à importância da cultura como invenção do homem, à autonomia de poder escrever sua própria história. Pelo dom de conhecer, o ser humano constrói sentidos, significações e símbolos. O modo como o indivíduo capta e interpreta a realidade vai determinar sua relação com o mundo na sua pluralidade de significados. É na cultura que o sujeito vai encontrar os primeiros elementos para a consolidação de discernimentos e, neste sentido, os museus podem exercer um papel importante ao oferecer aos seus visitantes/usuários a possibilidade de construir novos entendimentos sobre a sua própria cultura e também sobre a de outros povos.

Um dos exemplos atuais da aplicação das idéias de Freire aos museus, no caso aos museus de história, é a metodologia do “objeto gerador” – transfiguração do conceito de “palavra geradora” de que falava o educador –, definida e levada à prática pelo historiador Francisco Régis Lopes Ramos, diretor do Museu do Ceará. O trabalho com o “objeto gerador” envolve exercícios que enfocam a experiência cotidiana do visitante do museu, na perspectiva de uma “pedagogia da provocação”: a partir do vivenciado, gera-se um “debate de situações-problemas”. Ramos relata que, quando há comparações entre objetos do passado e do presente, a noção de historicidade – qualidade ou condição do que é histórico – começa a ser trabalhada de modo mais direto.

O desafio dessa metodologia de aprendizagem no museu é conseguir usar a sensibilidade e a provocação como matérias-primas para novas percepções. Para tanto, as exposições devem ser capazes de estimular o interesse e a curiosidade do visitante por meio da emoção. 

Na metodologia da “palavra geradora”, Freire parte de uma situação familiar relacionada à realidade do educando para o entendimento do mundo. Na abordagem do “objeto gerador” – utilizado para o ensino de História –, também é necessário iniciar o contato e o diálogo pela experiência pessoal do visitante, por meio de objetos do seu uso cotidiano, para então discutir objetos de outras culturas e épocas.

Para problematizar uma questão no contexto do museu, é fundamental que a exposição – e também os profissionais encarregados da mediação, como guias e professores, entre outros – seja capaz de relacionar os temas e objetos nela contidos a situações, experiências e objetos familiares aos visitantes. Aprender em museus deve ser uma experiência espontânea e, portanto, prazerosa. 

Visitar instituições museológicas é um hábito a ser cultivado, se possível desde cedo, pois estes locais estimulam a curiosidade e o desejo de conhecimento. Não existe uma maneira preconcebida de se visitar um museu: cada pessoa deve usar a criatividade e criar sua própria relação com estes espaços plenos de História e histórias. Ao ampliarmos nossa visão de mundo, aprendemos a apreciar e respeitar outros povos e culturas.


DENISE C. STUDART é coordenadora do núcleo de estudos de público 
e avaliação do Museu da Vida, da Fundação Oswaldo Cruz (RJ).