30.1.16

O que é a cultura? 2




Esta palavra teve diferentes definições. No século XIII, a cultura correspondia ao sentido de cultivar a terra. A partir do século XVI, a cultura se opõe ao que é natural. Uma pessoa cultivada corresponde, nesta época, a uma possa que conhece as artes e as ciências. 

No XIX, os antropólogos e, principalmente Edward Burnett, mudam a definição. Neste século, a cultura é um sistema simbólico, organizadora da vida social e que tem conhecimentos, crenças, arte, leis, etc. Mais concretamente, os antropólogos consideram que a sociedade tem dois grupos: “nosso” e “os outros”.

Então, a partir desta época, é considerado que cada sociedade possui uma cultura própria. Depois disso, os sociólogos funcionalistas definiram novamente a cultura, mas, desta vez, como um conjunto de valores e de normas de uma sociedade. Em nossos dias, o conceito é vasto. Podemos falar de cultura geral, da cultura de uma empresa, da cultura de massa, etc.

Em sociologia, a cultura é própria a um grupo social e depende da socialização. As instâncias de socialização: família, escola, amigos, têm um papel determinante.

Podemos definir a cultura em duas dimensões: o lado universal, exterior ao individuo (a cultura explicita da sua sociedade) e o lado da cultura adquirida, transmitida (as mentalidades transmitidas e interiorizadas).


Culturalismo americano, Margaret Mead.


Margaret Mead, antropóloga americana (1901-1978), escreveu em 1935 a obra: “Sexo e temperamento em três sociedades primitivas”. Ela revela, neste livro, que na Oceânia, as normas sociais, resultados da cultura, são opostas às normas sociais do Brasil ou da França. Por exemplo, na Oceânia, os homens têm que ser sensíveis e as mulheres duras. Assim, ela pode ver que a maneira de se comportar depende da construção social. Então, a explicação da maneira de se comportar é cultural, e não, natural.


Escola francesa, Pierre Bourdieu


Segundo Pierre Bourdieu (A distinção, 1979), as práticas culturais são associadas às posições sociais dos individuos. Se você pertence à classe dominante, você vai ter práticas culturais parecidas a das outras pessoas desta mesma classe dominante. Por exemplo, se as classes dominantes vão frequentar óperas, escutar músicas classicas, então provavelmente você também obterá os mesmos hábitos.

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Post-modernismo americano, Erving Goffman


Erving Goffman explica que para entender uma cultura é importante olhar as interações sociais entre os individuos. Erving Goffman compara a vida social como a vida teatral. Os indivíduos têm papeis para atuar na vida.


Outros conceitos associados

– aculturação: contato entre grupos de indivíduos de diferentes culturas e que geram mudanças nos modelos culturais do início. Primeiro, o individuo vai selecionar características culturais. Segundo, ele vai reinterpretar estes elementos. Por fim, ele vai reestruturar o conjunto.

– subcultura: cultura própria de um subgrupo social. A subcultura tem as mesmas características da cultura da sociedade. Por exemplo, no Brasil, a cultura gaúcha é uma subcultura. Os gauchos têm características similares (têm a mesma historia, o costume de tomar chimarão, etc.), porém, pertencem à cultura brasileira.

– contra-cultura: subcultura contra características dominantes da cultura da sociedade. Este subgrupo quer fazer reconhecer as suas próprias normas e valores. Por exemplo, os punks são contra-cultura.


Como legitimar a cultura?


Para legitimar a cultura, há sempre um expert de renome (Margaret Mead, Pierre Bourdieu, Erving Goffman, etc.) que se pronuncia sobre o assunto enquanto a sociedade entende tal pronunciamento como verdade.

Um exemplo concreto disto é o seguinte: imagine que sou uma pintora muito qualificada em uma favela pobre do Rio de Janeiro. Quem vai se interessar pelo meu trabalho? Na verdade, não tenho os mesmos códigos sociais de um pintor rico. 

Não temos a mesma socialização, as mesmas maneiras de se apresentar, de falar, de se comportar. (Pierre Bourdie chama isso de “habitus”). Então minhas produções não vão ser facilmente famosas como as do pintor rico. Os experts vão dizer o que é a cultura legítima. Porém, a gente pode se perguntar: Como legitimar uma cultura se é sempre o expert que fala? O expert é o individuo que tem um controle sobre os códigos culturais e simbólicos.

Acho que estamos em um mundo social onde as pessoas consentem que as culturas que são já legitimadas são mais importantes.  Que seja no trabalho, por exemplo. Vou contratar uma pessoa que esteja mais próxima da cultura dominante. Porém, na realidade, é muito provável que a pessoa que não pertence à cultura dominante seja mais produtiva.